Cinco dias de evento, 32 desfiles, (10 deles internacionais), 8 eventos profissionais, duas apresentações de moda, um roteiro industrial e ainda exposições e live performances, 37 designers, 14 marcas e cerca de 20.000 pessoas envolvidas entre visitantes profissionais, imprensa e equipas de produção e bastidores. Assim se resume em números a 53ª edição do Portugal Fashion. Um balanço de sucesso, superação e resistência, onde o Museu do Carro Elétrico surge como um surpreendente epicentro de moda, indústria e lifestyle. Assumindo-se como uma montra para o “fashion hub” que se encontra “behind the scenes”, o Portugal Fashion voltou a democratizar o acesso à moda de autor com desfiles de rua, eventos espalhados pela cidade, desfiles e eventos industriais (joias, calçado, moda sustentável e uma instalação sobre moda circular) e ainda visitas a empresas de produção e uma “Talk and office Tour” nos escritórios de “Creative Operations” da Farfetch.
Na antiga central termoelétrica de Massarelos foram reveladas as coleções primavera-verão 2024 de designers de moda emergentes (Espaço Bloom), marcas de calçado e vestuário e criadores consagrados como Alexandra Moura, David Catalán, Estelita Mendonça, Hugo Costa, Luís Onofre, Miguel Vieira, Pedro Pedro ou Susana Bettencourt, entre outros. Destaque para Judy Sanderson, sul-africana radicada no Porto que, após a estreia no evento integrada no programa CANEX, em 2022, apresentou agora a sua coleção em desfile próprio. De assinalar também a inovadora participação da marca Ernest W. Baker, que organizou um happening noturno no bar Passos Manuel Já Hugo Costa e Huarte, pelo contrário, surpreenderam ao apresentar coleções à luz do dia e ao ar livre, na rua do Ouro, junto ao rio Douro.
Como aconteceu nas edições imediatamente anteriores, o Portugal Fashion voltou a servir de hub para a divulgação da moda africana na Europa e para a promoção da moda portuguesa em mercados africanos. Tudo isto no âmbito do programa CANEX (acrónimo de Creative Africa Nexus), que nasceu de uma parceria estabelecida, em 2021, entre a ANJE, através do Portugal Fashion, e o banco africano de export-import Afreximbank. A parceria contou com a participação de 10 criadores africanos, que assim tiram vantagem do know-how, da notoriedade e da capacidade promocional do evento, bem como da ligação da cidade do Porto à competitiva indústria têxtil e de vestuário da região Norte. Até ao momento, o programa CANEX já apoiou 70 designers de 26 países de África e Caraíbas.
“Um programa diversificado, desenhado com o objetivo claro de prestigiar o Portugal Fashion, a moda portuguesa, e a cidade do Porto. O conhecido impasse no financiamento reforçou o nosso objetivo de demonstrar resiliência na promoção dos vários sectores da fileira moda, desde o design criativo à produção industrial, passando ainda pela força da fileira de fashion tech que se vem instalando no Porto, através do envolvimento da Farfetch”, salienta a diretora do Portugal Fashion, Mónica Neto.
“É perante as adversidades que nos tornamos mais fortes na afirmação da relevância estratégica do Portugal Fashion. Um posicionamento diferenciado pela ímpar conexão industrial e pela competitividade que a articulação entre designers e indústria nos proporciona é o que acreditamos ser a chave para o futuro. E assim nos tornamos cada vez mais globais, dando também cada vez mais palco a designers e marcas que escolhem o Porto para lançar as suas marcas. Em resumo, as palavras-chave são: aposta constante em jovens talentos, indústria e internacionalização”, salienta a mesma responsável.
Edição do Portugal Fashion pode ser a última devido aos atrasos dos fundos comunitários
Com base na promessa de financiamento que o Governo fez, em outubro do ano passado, para a realização do Portugal Fashion, a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) avançou com a realização das últimas edições do evento. No entanto, os atrasos no processo de atribuição dos fundos europeus prometidos têm estado a pressionar as contas da associação, que, no próximo ano, admite não conseguir repetir o esforço feito até aqui, porque significaria pôr em causa a viabilidade financeira da ANJE.
O certame era tradicionalmente financiado em 85% por fundos europeus, mas o financiamento não chegou às últimas edições de outubro de 2022, março de 2023 e outubro de 2023, porque o quadro Portugal 2030 ainda não tem candidatura aberta. A previsão de aviso é de abril de 2024. A próxima edição do Portugal Fashion, a realizar-se, acontece em março. A associação continua, no entanto, a acreditar que vai conseguir, em conjunto com o Governo, uma solução, dada a importância estratégica do Portugal Fashion.
As edições deste ano apenas têm sido possíveis com o esforço da ANJE e ajuda de parceiros privados e institucionais. É, por isso, incontornável para a associação, agradecer a todos os patrocinadores, em especial à Câmara Municipal do Porto e ao presidente Rui Moreira, por todo o apoio dado.
Para a associação, todo este esforço tem mostrado que o Portugal Fashion mobiliza muitas entidades e atores da fileira moda, e não só, que acreditam convictamente na pertinência e necessidade do projeto. Na visão da ANJE, deitar a toalha ao chão teria um impacto considerável na atividade dos criadores e marcas cujo sucesso do trabalho depende, em boa medida, do apoio do Portugal Fashion, assim como de todo o trabalho que foi desenvolvido ao longo dos anos.
O apoio à ANJE, através de fundos comunitários, sempre foi atribuído dada a importância do trabalho realizado pela associação em áreas essenciais para a economia portuguesa, nomeadamente, no que respeita a áreas como o empreendedorismo, a internacionalização dos projetos nacionais e até à inovação.
Em relação ao Portugal Fashion, a importância tem sido reconhecida não apenas para a região Norte como para os vários setores da economia portuguesa, até por se tratar do único projeto que promove a moda de autor em articulação com o ‘made in Portugal’ a nível internacional. Recorde-se que, em Portugal, muito do que deve ser o apoio público à atividade económica é remetido para os fundos comunitários. Em outros países, esta área é definida como um apoio estratégico, alocando fundos específicos para o setor da moda, incluindo uma atenção particular à moda de autor e às suas especificidades.
Apesar de ter conseguido dar continuidade às edições nacionais, a ANJE já foi forçada a suspender o seu habitual roteiro internacional de desfiles, uma pausa que tem um impacto significativo nos resultados de internacionalização conquistados pelo Portugal Fashion e, consequentemente, nos processos evolutivos dos designers nacionais à escala global. Conquistar calendários oficiais das mais conceituadas semanas de moda internacionais é um trabalho que exigiu anos de consistência, networking e credibilização, sendo um esforço trabalhado no âmbito de uma estratégia mais ampla que concilia a amplitude promocional dos desfiles com a dinâmica comercial de showrooms e feiras, resultando assim na conquista de pontos de venda para as marcas nacionais. Os desfiles internacionais do Portugal Fashion estão suspensos desde o final do primeiro trimestre de 2022.
De acordo com um estudo realizado pela Universidade Católica do Porto, divulgado no passado, a realização do Portugal Fashion, ao longo os últimos cinco anos, gerou (apesar da pandemia, que afetou os últimos dois anos, e que impediu que os eventos do PF decorressem com normalidade): Um impacto de 45,4 milhões de euros no Valor Acrescentado Bruto português; sustentou anualmente entre 170 e 449 postos de trabalho; no período pré-pandemia, anualmente, o impacto excedeu sempre 10 milhões de euros de Valor Acrescentado Bruto e cerca de 400 postos de trabalho (em algumas edições excedeu este número).