– São 10 anos de Bloom. O futuro da moda portuguesa passa pelo que há-de vir?
Qualquer futuro passa pelo que há-de vir…. mas para se ter alguma ideia do que aí vem é bom saber viver o aqui e agora … o presente.
Há que saber o que se faz, porque se faz e para quem se faz. O BLOOM é bem o reflexo desta ideia, é um movimento de jovens que desenham e desempenham, que cortam e executam e que ao apresentarem as suas próprias coleções tem a esperança que, num qualquer futuro próximo, algo aconteça que os ajude a ser aquilo que eles querem ser. É sem dúvida no BLOOM, no presente, onde esse momento de exposição é importante, onde o talento pode ou não ser reconhecido, e é aí no presente que o futuro existe ….
– Os designers mais novos deviam ter metade da garra que a Isabel tem?
Os Designers mais novos têm a garra própria da juventude… que é única e tem prazo de validade. Têm a coragem de tentar Ser e o querer de Existir. Reconheço-lhes uma força e uma vontade que me é quase comovente…
– Pedem-se sempre os conselhos mas não vai ser o caso. Quais serão as dificuldades que os novos designers vão ter e porque é que as vão ter?
Conselhos é algo que não sei dar e nem sei se concordo ….e também não está no meu adn, mas sei que a grande nova dificuldade do momento para estes novos designers é conseguir trabalhar nesta Indústria da Moda – tida como a segunda indústria mais poluente e terem que prometer ao mundo que vamos ter um futuro e um planeta para viver. Este vai ser o grande desafio de futuro.
– A Isabel foi casada com um músico e é mãe de um escritor. Será que alguém da geração seguinte vai ser designer de moda, ou é mais fácil ser cientista e descobrir uma nova teoria da matemática da quantização?
A próxima geração vai ser uma geração sacrificada à sustentabilidade e trabalhar em moda vai ser um caminho difícil. Os que nos precedem vão ter que pagar pelos nossos erros.
– Há sempre qualquer coisa que falta aos designers portugueses e a Isabel sabe o que é. É o quê?
Reconheço-lhes talento, força para andar em frente, são viajantes que fazem o seu caminho caminhando num país conformista ao fundo da Europa, têm a coragem e determinação dos que querem… não lhes falta nada.
– O Bloom, como plataforma para arriscar, ainda mantém a essência romântica do que a moda deve ser?
Quando uma planta floresce, abre e dá flor… esta é a essência do BLOOM.
– O que é a essência romântica da moda?
Não sei…
– Um dia, daqui a 100 anos, quem é que pode substituir a Isabel como DDT?
Digam vocês.
– Quem vive na Lapa é beto?
Quem vive na Lapa é feliz…
– Na coordenação de um desfile é pior ficar sem ver ou sem ouvir?
É pior ficar sem falar.
– Qual é o futuro da moda portuguesa, e da moda em geral?
O Futuro da moda passa pela mudança. O planeta assim o obriga. A moda vai ter que ser sustentável e a mensagem não pode ser só uma simples estratégia de marketing do momento, temos que passar de uma economia do usar e deitar fora para o reutilizar. Isto sem dúvida que vai mexer em toda a estrutura tal como a conhecemos até aos dias de hoje. Nada mais vai ser como era. Timings diferentes, com novas maneiras de estar de fazer e de olhar. As atitudes por mais pequenas que possam parecer vão contar e citando Vivienne Westwood na sua revolução pelo clima ‘comprem menos…. não é preciso sair de um grande armazém com um saco cheio de t.shirts mais vale comprar um único vestido mesmo mais caro de um bom designer que se usa e re-usa’.
Outro grande desafio se adivinha.
– Como é que se consegue reinventar a moda em Portugal?
A moda inventa-se e reinventa-se por si própria… ou não fosse moda. Reinventa-se com talento, paixão, cultura e espírito revolucionário.
– Fala-se muito do futuro dos jovens designers. O futuro não é o que se faz no presente?
Acho que de alguma maneira já respondi em cima a esta pergunta, mas este é o momento para usarem a vossa juventude , o vosso talento, a vossa paixão por esta incrível industria que é a moda para repensar, refazer e recriar o futuro.
– Quanto de Isabel existe na personagem Teresa, do livro “Biografia involuntária dos amantes” de João Tordo?
Li o livro, gostei muito, mas não me revi em nenhuma das personagens.
– Ainda dá gozo trabalhar em moda?
Muiiiitooo. Não me via a fazer outra coisa. Adoro mesmo.