
O objetivo das “Thinking Fashion” é pensar sobre a moda de uma forma transversal. A sua importância, os intervenientes, a busca pela relevância nacional e internacional, até a maneira como é capaz de mudar a vida das pessoas.
Ao longo os próximos tempos, as “Thinking Fashion” surgirão sob a forma de entrevista digital. Uma seleção de pensadores que serão postos à prova. O resultado é o somatório de diversas reflexões e perspetivas sobre a moda, este organismo dinâmico e multidimensional por natureza.
Assim, deixamos a entrevista digital a Renato Duarte, locutor de rádio.
As apresentações estão feitas. Agora, é só pensar.
Não de forma consciente, no sentido em que não estou particularmente atento às tendências do momento nem condiciono as minhas escolhas ao que se usa em cada estação, mas é possível que haja uma influência que não é consciente ou completamente perceptível. Talvez as tendências me inspirem, mas não consigo enumerar nenhuma em particular.
Rasgo, estratégia, networking, tudo isto conta e tudo isto dá muito trabalho.
Precisam de vender roupa, sim. Se medimos o sucesso e reconhecimento com base na capacidade de fazer chegar o trabalho desenvolvido a um grande número de pessoas, então as vendas têm de ser um dos indicadores principais para medir a pertinência de uma coleção.
Eu diria que o facto de ser uma forma de arte que está tão integrada no nosso quotidiano só contribui para a sua elevação. Os desafios criativos que esta circunstância coloca aos designers têm sido trabalhados de formas extraordinárias, ao longos dos tempos.
Existem questões que são transversais a outras indústrias, como a escala, a dificuldade em criar marcas fortes e relevantes e a fraca literacia artística e cultural do país, que não nos permite valorizar adequadamente as peças que tão bem são pensadas e produzidas em Portugal. Temos know how, saber fazer e muita qualidade, que aliás é reconhecida pelas grandes marcas de moda internacionais, mas depois não conseguimos criar uma identidade suficientemente forte para cativar um grande número de pessoas e alimentar, de facto, uma indústria, que permitiria a profissionalização de mais e mais criadores.
Não sendo especialista, parece-me que o caminho pode e deve ser feito nos dois sentidos. A indústria não deve colocar de lado o rasgo, risco e a criatividade, sob pena de educar um mercado pouco diferenciado na oferta. A moda de autor tem a ganhar se conseguir pensar na relevância que pode ter num mercado altamente competitivo, sem perder a sua identidade de base.
Como disse em cima e sem querer complicar demasiado, acho que é uma questão de educação. Fracos hábitos culturais não permitem entender o aspecto único e altamente diferenciado de uma peça de roupa de autor, não reconhecendo esse valor, torna-se difícil aceitar uma lógica de preços justos e criar hábitos de consumo que consigam ir ao encontro das necessidades desta indústria.
Eu creio que há uma mudança em curso que passa por opções de consumo mais conscientes. Torna-se cada vez mais difícil não reconhecer que a moda é uma das indústrias mais poluentes, que isso tem de ser olhado e que temos todos de agir sobre isso.
Ver e ser visto. Nada além disso. Fazer parte de um momento a que reconhecem um certo prestígio social, sem que haja esforço efectivo de entender exactamente o que está ali a ser mostrado e celebrado e a importância que pode ter para os criadores e para o país.
As semanas de moda têm sofrido alterações que a pandemia acelerou. Seria algo autista achar que o formato das semanas de moda não deve evoluir com os tempos, a sociedade e a forma como as pessoas consomem e acedem aos produtos de moda.
Não tenho dados, mas creio que as lojas online cresceram em vendas no contexto pandémico. A experiência de venda online está longe, a meu ver, de substituir as lojas físicas, não desejo nem prevejo que isso aconteça.
Para pensar moda em Portugal é essencial estar atento à extraordinária capacidade criativa dos designers que têm surgido nos últimos anos. Acho que se nos dermos ao trabalho de entender as motivações, o rasgo e a qualidade do que se tem feito no nosso país, não é assim tão difícil estar otimista e definir uma estratégia para a moda nacional.
A afirmação dos criadores portugueses lá fora é de extrema importância, faz parte da estratégia de promoção da moda nacional e deve ser intensificada, de forma consistente e inteligente. No entanto, confesso que me parece mais urgente e essencial, para já, trabalhar a percepção que temos cá dentro do trabalho dos nossos criadores.