
O objetivo das “Thinking Fashion” é pensar sobre a moda de uma forma transversal. A sua importância, os intervenientes, a busca pela relevância nacional e internacional, até a maneira como é capaz de mudar a vida das pessoas.
Ao longo os próximos tempos, as “Thinking Fashion” surgirão sob a forma de entrevista digital. Uma seleção de pensadores que serão postos à prova. O resultado é o somatório de diversas reflexões e perspetivas sobre a moda, este organismo dinâmico e multidimensional por natureza.
Assim, deixamos a entrevista digital a Sofia Moser Leitão, manequim.
As apresentações estão feitas. Agora, é só pensar.
Nunca gostei muito da palavra “tendência”. Acredito que cada pessoa deveria criar as suas próprias tendências. Não sou muito a favor do comportamento de manada.
Acho que vem de uma combinação entre trabalho e sorte, mas acho que o empenho, a dedicação e a disciplina são sem dúvida meio caminho andado. Não podemos estar sentados à espera que as coisas aconteçam.
Não sou designer, mas se fosse, adoraria saber que as pessoas se interessam pelo meu trabalho, mas que esse interesse não passasse só de curiosidade e entusiasmo. Os designers não sobrevivem do ar, é preciso apoiarmos, é preciso consumirmos peças de designer. Por isso é que tento sempre privilegiar comprar peças de designers independentes e de marcas em que eu sei que o meu apoio vai fazer a diferença.
Eu acho que existe moda que é arte e moda que não o é. Tanto como há pintores que são artistas e outros que não tanto. Fotógrafos artistas, e fotógrafos não-artistas. Chefes que são artistas e outros que nem por isso.
E na maioria das vezes acho que isso até se distingue por uma conversa, não tanto pelo resultado e a concretização do trabalho.
E não acho que o quotidiano tenha que ser inimigo da contemplação. Se formos expostos a uma peça interessante, acho que vamos ter sempre um olhar diferente quando formos confrontados com ela. A ideia é termos sempre perspectivas diferentes e vermos sempre coisas novas.
Porque o poder de compra em Portugal não é propriamente colossal, e também porque as pessoas não têm muito bom gosto, e preferem investir numa peça com um logo reconhecível por todos, para garantirem que sabemos todos de onde vem a peça. Ninguém quer saber dos designers portugueses, infelizmente.
Eu acho que para haver maior destaque da moda de “autor”, temos que ser nós consumidores a unir forças para mudarmos as coisas. É importante caminharmos nesse sentido, até a nível de ecologia e sustentabilidade.
Acho que é isso tudo ao mesmo tempo. Mas sobretudo ignorância e falta de sensibilidade.
Acho que existe uma maior consciência geral mas é importante estar atento ao fenómeno do “green washing”.
Ver e ser vistos?!
Não acho que faça muito sentido. Acho que os gastos são muitos e o retorno não é assim tanto. Eu sou super a favor do digital. Os desfiles e eventos são na maioria das vezes uma feira de vaidades. Eu digo isto mas adoro ser convidada e vou com imenso gosto!
Acho que sim. A pandemia teve um impacto muito grande a todos os níveis na indústria da moda. Fecharam muitas lojas mas também houve um consumismo online desenfreado. O que também não é ideal.
Eu acho que a moda em Portugal é pouco representativa do talento que existe no nosso país. E acho que isso é uma pena.
A Marta e o Paulo dos Marques’Almeida, o Felipe Oliveira Baptista, a Constança Entrudo, entre outros, fizeram e continuam a fazer um percurso fantástico e conseguiram destacar-se no estrangeiro mas parece-me que realmente existe pouco reconhecimento disso em Portugal. E infelizmente acho que isso é uma das razões pelas quais os designers com talento têm que se virar para fora.